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Portugal Scrambles to Shield Fire-Damaged Slopes Before Autumn Downpours

Environment,  National News
By The Portugal Post, The Portugal Post
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Os incêndios de verão podem já ter deixado as manchetes, mas o País entra agora numa fase crítica: as primeiras chuvas de outono podem arrastar cinzas, provocar derrocadas e comprometer a água potável que chega às torneiras. A Ministra do Ambiente, Maria da Graça Carvalho, não poupou palavras esta semana, classificando como “urgentíssimo” evitar um duplo desastre nas encostas fragilizadas e nas linhas de água. Para quem vive em Portugal – sobretudo estrangeiros ainda a decifrar os caprichos do clima local – a questão vai muito além de geologia: está em causa a mobilidade, a saúde pública e o valor dos imóveis que muitos acabam de comprar.

Why this matters for newcomers

Para residentes recentes, a precipitação intensa que costuma chegar em novembro pode transformar trilhos turísticos, acessos rurais e até vias rápidas em armadilhas inesperadas. Estradas de montanha, sobretudo na Madeira e na Serra da Estrela, já registaram fechos súbitos por deslizamentos. O risco não se limita à condução; sistemas de abastecimento urbano podem receber água turva carregada de cinzas, obrigando a cortes ou fervura doméstica. Além disso, valores de IMI, seguros de habitação e prazos de obras podem saltar sempre que uma zona é colocada em alerta. Com o turismo de natureza a ser um dos atrativos para expatriados, saber onde ficam os pontos críticos torna-se essencial.

The government’s emergency playbook

A 24 de agosto entrou em vigor o Decreto-Lei 98-A/2025, que desbloqueia verbas para intervenções de estabilização de emergência nas áreas ardidas. O pacote cobre retensão de solos, reforço de taludes, replantação rápida e monitorização da qualidade da água. Financiamentos chegam através do programa Sustentável 2030 e do fundo de recuperação das Beiras e Serra da Estrela. Segundo fontes da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), equipas conjuntas da APA, do ICNF e dos municípios têm carta-branca para contratar obras sem concurso público nos próximos 6 meses, desde que apresentem relatórios técnicos em 15 dias. Essa agilidade destina-se a bater o relógio antes das primeiras chuvadas fortes, que geralmente começam na segunda quinzena de outubro.

Hotspots to watch: Madeira to Serra da Estrela

A ilha da Madeira vive com encostas abruptas que combinam florestas densas e chuvas torrenciais. Em abril, a tempestade Nuria fechou a estrada do Curral das Freiras por 72 horas após um bloco de 400 toneladas deslizar. No continente, as atenções concentram-se no Parque Natural da Peneda-Gerês, onde 1 800 hectares arderam em julho, deixando solo nu em vales que drenam para o rio Lima. Já na Serra da Estrela, os afluentes do Mondego e do Zêzere correm turvos sempre que chove depois de um fogo. A ministra avisou que «qualquer falha» nesses pontos pode contaminar não só pequenas aldeias, mas também sistemas de captação que abastecem cidades a dezenas de quilómetros.

Science behind the quick fixes

Técnicos portugueses estão a importar soluções testadas em Espanha e na Califórnia. Entre as mais usadas estão o mulching (cobertura do solo com biomassa), redes de gabiões preenchidas com rocha local, e hidrossementeiras de espécies autóctones que germinam em 10 dias. Sistemas de alerta remoto medem a estabilidade de encostas através de sensores de inclinação e pluviômetros conectados por IoT; um desvio de 1,5 cm põe logo máquinas em marcha. Especialistas da Universidade de Aveiro lembram que a eficácia depende da aplicação antes da primeira chuva de 20 mm, limite que costuma ocorrer já em meados de setembro no Centro-Norte.

Municipalities on the frontline

Câmaras locais, da pequena Manteigas ao concelho costeiro de Vila do Bispo, negociam agora contratos de emergência que incluem a instalação de barreiras de sedimentos a montante das ETARs e a criação de faixas de 10 m sem maquinaria junto às ribeiras. Algumas autarquias oferecem descontos de 50 % nas taxas de licença para quem recuperar muros de contenção privados. Para estrangeiros que compraram quintas em zonas altas, o presidente da Associação Nacional de Municípios aconselha «verificar coberturas de seguro» para movimentos de massa, cláusula muitas vezes ausente nos contratos assinados em inglês.

Will your tap water stay safe?

A Águas de Portugal garante que as ETAs possuem módulos de carvão ativado capazes de remover metais pesados e matéria orgânica associada às cinzas. Ainda assim, municípios podem emitir avisos de fervura temporários sempre que a turbidez ultrapassar 5 NTU. Relatórios internos da APA indicam que, após o incêndio de 9 agosto na Cova da Beira, cargas de fósforo subiram 27 % durante 48 horas na captação do rio Carpinteira. A empresa pública reforçou o clorofiltração e normalizou valores em 3 dias. Moradores recebem notificações via SMS 3838, serviço que pode ser ativado com qualquer número estrangeiro registado em Portugal.

Practical know-how for residents

Se vive perto de uma zona ardida, mantenha à mão sacos de areia, verifique se as caleiras estão limpas e fotografe periodicamente a encosta atrás de casa para detetar fissuras. Agricultores devem evitar gradear solos cinzentos: a aração profunda acelera a erosão e dificulta pedidos futuros de apoio. Em condomínios, a instalação de valas de drenagem simples custa menos de €10 por metro e pode evitar danos de milhares. As companhias de seguros costumam enviar peritos apenas até 72 h após o sinistro; ter registos fotográficos facilita a peritagem.

The bigger climate picture

Modelos do Instituto Português do Mar e da Atmosfera apontam para um aumento de 36 % na frequência de episódios de chuva extrema até 2040, enquanto a área ardida média pode crescer 18 % na próxima década. Essa combinação – verões mais quentes e invernos com aguaceiros violentos – coloca Portugal na lista dos países europeus com maior risco de erosão pós-fogo. A Comissão Europeia incluiu o litoral oeste e a região Centro na iniciativa Climate Resilient Europe, que prevê fundos adicionais para infraestruturas verdes, como corredores ripícolas e reflorestação de espécies menos inflamáveis.

Looking ahead

Os próximos dois meses serão decisivos. Se as obras provisórias correrem dentro do calendário, a maioria dos taludes críticos estará protegida antes das primeiras chuvas significativas. Caso contrário, Portugal pode enfrentar não só quedas de bloco pontuais, mas também cortes prolongados no abastecimento de água – exatamente o tipo de sobressalto que quem escolhe o país pela sua qualidade de vida espera evitar. Para já, a palavra de ordem em Lisboa é pré-venção. Resta saber se o tempo, e não apenas o orçamento, jogará a favor.