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Candlelit Porto March Ties Portugal to Global Push to Lift Gaza Siege

Politics
By The Portugal Post, The Portugal Post
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Centenas de velas acesas, cartazes improvisados e o rumor de cânticos em árabe e português transformaram a baixa do Porto, no fim de semana, num ponto de convergência para quem exige o fim imediato do bloqueio a Gaza. A mobilização, que integrou um Dia Global de Ação espalhado por 17 países, foi tanto um retrato da solidariedade internacional como um teste à forma-de-ser portuguesa diante de crises distantes. Para residentes estrangeiros que se surpreenderam com a dimensão do ato, eis o que está em jogo — desde o impacto logístico na cidade até às implicações diplomáticas de Lisboa e Bruxelas.

Why the streets filled with candles and keffiyehs

O protesto começou ao fim da tarde de 9 de agosto junto à Praça dos Leões, ganhou corpo pela Avenida dos Aliados e encerrou com uma vigília em frente à Câmara Municipal. Segundo organizadores, participaram "alguns milhares"; a polícia fala em "poucas centenas". Entre as vozes, ouviam-se apelos por “levantem o cerco”, referências à “vergonha da Europa” e homilias improvisadas sobre direito internacional. A multidão, composta por portugueses, estudantes Erasmus, trabalhadores migrantes e turistas curiosos, terminou em silêncio, quebrado apenas pela leitura de nomes de vítimas civis. Não houve confrontos nem detenções, mas a circulação automóvel esteve condicionada no centro histórico durante três horas, um detalhe relevante para estrangeiros que dependem de TVDE ou transportes públicos.

A Portuguese city joins a global chorus

A convocatória partiu de redes solidárias que unem Lisboa, Gaza, Londres, Joanesburgo e Santiago. Sob a etiqueta #EndGazaSiege, manifestações sincronizadas ocorreram em Atenas, Paris, Bogotá, Maputo e noutras 12 capitais, numa tentativa de criar pressão simultânea sobre decisores europeus. No Porto, os organizadores — coletivos universitários, associações de migrantes árabes e ONGs portuguesas — insistiram que a iniciativa não é “contra Israel” per se, mas contra o bloqueio militar, descrito como principal motor da crise humanitária documentada pelas Nações Unidas. Várias faixas em inglês indicavam que o protesto foi pensado para captar também a comunidade internacional residente.

What foreign residents noticed on the ground

Para quem vive no Porto sem dominar o português, dois elementos foram marcantes. Primeiro, a forte presença de cartazes bilingues, garantindo acessibilidade a residentes britânicos, brasileiros e franceses. Segundo, a atuação discreta da Polícia de Segurança Pública (PSP): agentes em número reduzido, sem equipamento antimotim visível, apenas a orientar o trânsito. Expats relataram em grupos de WhatsApp que a atmosfera foi "famil-friendly", com crianças, pessoas idosas e ciclistas a acompanhar a marcha. Restaurantes na Rua das Flores e na Galeria de Paris registaram fluxo acima da média, sinal de que a cidade conseguiu absorver o evento sem sobressaltos económicos.

Government in Lisbon speaks up, Porto City Hall stays silent

A manifestação ocorreu 24 horas depois de o Ministério dos Negócios Estrangeiros português publicar nota de “profunda preocupação” pela intenção de Israel de ocupar a Cidade de Gaza, sublinhando que tal decisão “põe em causa esforços de cessar-fogo”. Dois dias mais tarde, Portugal subscreveu um comunicado conjunto com Noruega, Irlanda e Espanha que classificou a operação israelita como “violação flagrante do direito internacional”. Enquanto isso, a autarquia portuense manteve-se em silêncio. Questionado pela imprensa local, o gabinete do presidente Rui Moreira não emitiu declaração, limitando-se a confirmar que “não se registaram incidentes” durante a vigília. Para observadores diplomáticos, o contraste sugere que, em Portugal, a esfera nacional assume o protagonismo da política externa, deixando às câmaras municipais apenas a gestão logística das manifestações.

Gaza by the numbers: why protesters are alarmed

Segundo o OCHA, o bloqueio e a ofensiva iniciada em 2023 contabilizam 61 158 mortos e 151 442 feridos até 6 de agosto. Entre as vítimas, 18 430 crianças e 9 735 mulheres. Médicos Sem Fronteiras denuncia que 70 % das infra-estruturas de água foram destruídas; a população sobrevive com 3-5 litros de água por dia, longe dos 15 litros mínimos apontados por padrões humanitários. A única central elétrica deixou de operar, deixando 2,1 M de habitantes quase sem energia. Hospitais funcionam com analgésicos racionados, e 197 pessoas já morreram de desnutrição. Estes números, impressos em faixas e megafones na Avenida dos Aliados, explicam por que o apelo ao “fim do cerco” encontra eco até em quem jamais pôs os pés na Faixa de Gaza.

Does this signal a broader shift in Portugal?

Nos últimos 10 meses registaram-se protestos semelhantes em Lisboa, Coimbra e Faro, mas o ato no Porto foi o primeiro a integrar um esforço orquestrado além-fronteiras. Analistas notam que o reconhecimento formal do Estado da Palestina, aventado por Lisboa numa declaração da ONU em julho, já galvanizava ativistas. O arranque da pré-campanha para as eleições municipais de 2025 também alimenta debate: partidos de esquerda planeiam propostas de geminação com cidades palestinianas, enquanto formações de direita acusam o executivo de “importar conflitos estrangeiros”. Para estrangeiros residentes, tal dinâmica pode significar mais mobilizações de rua nos próximos meses, sobretudo em datas-chave como o Dia Internacional dos Direitos Humanos.

Practical next steps for concerned expats

Quem deseja agir encontrará em Portugal filiais da Amnistia Internacional, do Comité Português para a Paz e de redes de voluntariado ligadas à Cruz Vermelha. Doar fundos a programas de água e saneamento em Gaza é frequentemente apontado pelos organizadores como a forma “mais eficiente” de ajuda, dada a dificuldade logística de enviar bens físicos. Além disso, várias faculdades portuguesas abrem inscrições para debates públicos sobre direito humanitário, muitos deles em inglês, o que oferece a recém-chegados uma porta de entrada para compreender melhor a política externa portuguesa e ampliar redes de contacto locais.