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Two Left-Wing Hopefuls Compete for Portugal's 2026 Presidency as Expats Watch

Politics,  Immigration
By The Portugal Post, The Portugal Post
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A troca de recados entre dois dos rostos mais visíveis da esquerda portuguesa animou a primeira semana de setembro. Para estrangeiros que acompanham a política local talvez de forma intermitente, o essencial é simples: António Filipe, histórico dirigente comunista, garante que a sua recém-formalizada candidatura presidencial segue em frente mesmo que Catarina Martins, ex-líder do Bloco de Esquerda, também decida entrar na corrida. O tema vai muito além de rivalidades partidárias, pois antecipa como a esquerda chegará a 2026 e, por extensão, que tipo de arbitragem moral e institucional o próximo chefe de Estado poderá exercer em Portugal.

Porque é que as presidenciais interessam a quem vive cá de fora

A Constituição atribui ao Presidente poderes de veto, nomeação de primeiro-ministro e dissolução do parlamento. Para residentes estrangeiros, esta figura pode pesar em dossiês como políticas de imigração, vetos ambientais, estado de emergência ou tratamento fiscal de investimentos. Com Marcelo Rebelo de Sousa impedido de se recandidatar, abrir-se-á um lugar com influência direta no clima de estabilidade que muitos expatriados valorizam quando compram casa, lançam startups ou escolhem Portugal como destino de reforma. Assim, perceber quem soma forças ou dispersa votos à esquerda ajuda a antever quão musculada será a oposição a um eventual presidente oriundo do centro-direita.

Quem é afinal António Filipe?

Pouco conhecido fora de círculos lusófonos, António Filipe foi deputado do Partido Comunista Português durante 30 anos, presidiu à comissão parlamentar de assuntos constitucionais e ensina Direito numa universidade de Lisboa. Ao anunciar a candidatura em julho, descreveu-se como uma voz “indispensável” para defender a Constituição de 1976, prometendo travar retrocessos em direitos laborais, serviços públicos e habitação acessível. Filipe fala para um eleitorado que teme uma viragem liberal no Estado social, mas também quer aparecer como ponto de encontro para toda a esquerda, insistindo que a sua campanha é “afirmativa” e “não contra ninguém”. Entre comunistas, ecologistas da CDU e nostálgicos da geringonça, ele procura ser o guardião de um programa social robusto sem deixar de cortejar independentes.

A incógnita Catarina Martins e o risco de dispersão

Do outro lado, Catarina Martins — hoje eurodeputada — namora publicamente a ideia de se candidatar. Nas redes sociais, sublinha a necessidade de uma “esquerda dialogante” que some em vez de subtrair. O BE, que levou Marisa Matias às duas últimas presidenciais, vê na antiga coordenadora uma oportunidade para reconquistar espaço perdido após resultados legislativos modestos. Filipe afirma que não se sente ameaçado: a “fragmentação” seria, no seu entender, culpa de quem deseja “silenciar pluralidade”. Ainda assim, analistas recordam que em 2021 a soma de vários aspirantes progressistas ficou longe de impedir a vitória folgada de Marcelo. Repetir o cenário em 2026 abriria caminho a uma maioria conservadora no Palácio de Belém, possibilidade que inquieta movimentos de direitos civis, ambientalistas e ONGs de migrações.

O que dizem (e não dizem) as sondagens

Uma pesquisa Intercampus em julho testou nomes genéricos: o espaço comunista reuniu perto de 4 %, enquanto figuras bloquistas foram citadas na mesma ordem de grandeza. Os inquiridos, porém, mostraram grande desconhecimento sobre candidaturas ainda hipotéticas. Especialistas em opinião pública lembram que, em Portugal, as intenções de voto só ganham nitidez quando os candidatos recolhem assinaturas e entram oficialmente na campanha televisiva. Até lá, porcentagens inferiores a 5 % são vistas mais como barómetro de notoriedade do que prenúncio eleitoral. Para residentes estrangeiros, o dado mais relevante é que nenhum rosto da esquerda ultrapassa, por ora, 10 % — um sinal de que o campo progressista ou se reorganiza ou entregará, sem disputa acirrada, a magistratura ao centro-direita.

Unidade ou pluralidade: dilema antigo da esquerda portuguesa

Conversas entre PCP e BE sobre “candidaturas de convergência” acontecem há anos, mas quase sempre naufragam nas diferenças estratégicas. Em março de 2024, Paulo Raimundo e Mariana Mortágua trocaram cumprimentos sobre colaboração autárquica e parlamentar, sem fechar qualquer acordo para Belém. O argumento comunista sublinha que “cada partido tem o seu tempo e o seu programa”; o Bloco responde que a sociedade mudou e reclama “novas fórmulas de representação”. O resultado, até agora, é uma esquerda que discute mais do que conflui. Esse cenário complica o cálculo de voto útil e pode empurrar muitos eleitores — inclusive estrangeiros com nacionalidade — para candidatos centristas percebidos como mais viáveis.

O que deve reter quem trabalha ou investe em Portugal

Se a campanha permanecer fragmentada, crescerá a probabilidade de um presidente favorável a reduções de impostos sobre capital, mas possivelmente mais conservador em matérias de direitos sociais ou política climática. Caso Filipe ou Martins ganhem tração e cheguem à segunda volta, o discurso constitucionalista tenderá a dominar, com impacto direto em reformas de habitação ou no debate sobre vistos para nómadas digitais. Em qualquer dos cenários, expatriados com direito de voto — seja por dupla nacionalidade, seja como cidadãos europeus residentes de longa data — poderão desempenhar um papel de fiel da balança. A mensagem por ora é clara: a esquerda ainda procura o seu alinhamento, e a velocidade com que o encontre dirá muito sobre o ambiente regulatório que quem vive em Portugal encontrará depois de 2026.