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Slowing Deposit Growth in Portugal Signals Time to Rethink Savings

Economy
By The Portugal Post, The Portugal Post
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Poupar continua a ser quase um desporto nacional em Portugal, mas os números que chegaram no final de julho revelam que algo mudou: a montanha de dinheiro que as famílias guardam no banco continua a crescer, porém o ritmo está a abrandar visivelmente. No espaço de um ano, o saldo total avançou para 195,8 mil M €, mas a variação homóloga caiu para 5,2% – o oitavo mês seguido de desaceleração. Para quem vive de rendimentos em euros (ou planeia fazê-lo em breve), a tendência levanta uma pergunta prática: o que está a acontecer ao mercado de depósitos e onde procurar rendimento num país onde a poupança nunca sai de moda?

Uma radiografia que interessa a quem recebe em euros

O Banco de Portugal confirmou na sexta-feira que o stock de depósitos das famílias voltou a tocar máximos históricos. São praticamente 196 mil M € estacionados em contas bancárias, uma soma equivalente a 80% do PIB português. Parte considerável – mais de 40% – está parqueada em depósitos à ordem, sem qualquer juro. Para o estrangeiro que abriu conta cá para pagar renda ou preparar a compra de casa, a mensagem é clara: o sistema bancário permanece líquido e seguro, mas já não remunera como antes.

Porque abranda o crescimento?

Três forças expliquem a travagem. Primeiro, os juros dos depósitos a prazo estão em queda há 17 meses. Novas aplicações pagam menos de 1,5%, bem abaixo da inflação acumulada, o que traduz rentabilidade real negativa. Segundo, as famílias estão a desviar parte do dinheiro para alternativas do Estado: certificados de aforro dispararam 10,4% em 12 meses, totalizando 37,5 mil M € em maio. Terceiro, o crédito voltou a ganhar tração. Empréstimos para habitação avançam 7,3% e consumo 7,9%, esgotando folga orçamental que antes iria para a conta-poupança.

O peso da política monetária europeia

Para quem acompanha o calendário do BCE, o quadro não surpreende. Na reunião de 24 de julho, Frankfurt manteve a taxa de depósito em 2,00% e sinalizou cortes «mais próximo do outono». Com a Euribor a 12 meses em torno de 2,08%, os bancos portugueses não têm margem para subir remunerações, preferindo proteger margem financeira. Em paralelo, a inflação convergiu para 2%, o que reduz a pressão popular para pagar mais pelos depósitos – mas não resolve o problema de ganhar acima do custo de vida.

Certificados, fundos e seguros: onde vai o dinheiro

A fuga dos depósitos não significa que o português típico esteja a arriscar em ações. A maior fatia vai para Certificados de Aforro Série F, indexados à Euribor 3 meses e com teto de 2,5%. O capital é garantido pelo Tesouro e o resgate é possível após três meses. Também há espaço para Certificados do Tesouro Poupança Valor, cujo cupão sobe gradualmente e inclui prémio extra no final do prazo. Para quem aceita volatilidade, fundos de mercado monetário ou ETFs ligados a obrigações europeias ganham terreno. Já os seguros de capitalização oferecem cupões entre 2% e 2,8%, com vantagem fiscal se forem contratados como PPR.

Implicações para residentes estrangeiros

Contas à ordem continuam gratuitas ou quase, mas não espere rendimento: são meros instrumentos de liquidez.

Ao constituir depósito a prazo em Portugal, compare sempre TAEG com a inflação projetada. Perder poder de compra é hoje regra, não exceção.

Investir em certificados do Estado exige número de contribuinte português; vale a pena tratar do NIF caso pretenda ficar mais de um ano.

Bancos internacionais a operar no país oferecem contas em várias divisas, porém o Fundo de Garantia português só cobre 100 000 € por titular e por banco – convém diversificar.

O que esperar até ao fim do ano

Economistas do lado de Lisboa e de Bruxelas convergem: salvo choque externo, o BCE cortará juros em 2025, empurrando a Euribor ligeiramente abaixo dos 2%. Isso significa que os depósitos podem remunerar ainda menos, ao mesmo tempo que os custos de financiamento da dívida pública baixam. Em consequência, certificados de aforro deverão manter-se como campeão da poupança de baixo risco, enquanto o mercado imobiliário pode recuperar fôlego com spreads mais competitivos.

Conclusão prática

Para quem chegou recentemente ao país ou pondera fazê-lo, a fotografia é simples: bancos saudáveis, mas depósitos pouco apetecíveis. Se quer estacionar dinheiro de curto prazo, privilegie liquidez e segurança; se o horizonte for médio a longo, estudar certificados do Estado, seguros de capitalização ou fundos bem diversificados faz cada vez mais sentido. A lição é universal, mas Portugal oferece instrumentos específicos – e, por agora, é lá que o cidadão local está a colocar as suas fichas.