Pellizzari Lights Up Burnt Slopes as Almeida Stays in Vuelta Hunt

A nova geração do ciclismo europeu ganhou um rosto na Galiza esta semana — e os adeptos portugueses tiveram motivos para prender a respiração. Um jovem italiano de 21 anos abanou a hierarquia da Vuelta, João Almeida manteve vivas as esperanças lusas de um triunfo inédito e, em pano de fundo, a caravana pedalou por serras transformadas em cinza pelos piores incêndios do noroeste de Espanha desde 2017.

Porque é que isto interessa a quem vive em Portugal

Se vive em Portugal e acompanha estradas galegas ao fim de semana, a Vuelta de 2025 entrou em fase decisiva mesmo à porta de casa. A diferença entre Jonas Vingegaard e João Almeida baixou para apenas 44 s a duas etapas do fim, mantendo o português num território onde qualquer bonificação pode mudar tudo. Para além do suspense desportivo, o percurso atravessou regiões onde mais de 36 000 ha arderam em agosto, um alerta claro para quem planeia passeios de bicicleta ou caminhadas no outono.

A explosão de Pellizzari em El Morredero

Na 17.ª etapa, com partida em O Barco de Valdeorras, o ainda pouco conhecido Giulio Pellizzari lançou-se num ataque a 4 km da meta e ergueu os braços no Alto de El Morredero após 3 h 37 min exatos de esforço. O escalador da Red Bull-Bora-Hansgrohe bateu Tom Pidcock por 16 s e deixou o colega Jai Hindley em terceiro. O triunfo faz dele o mais jovem vencedor de etapa na Vuelta desde 2019, mas também devolve ao pelotão aquela centelha de irreverência que tantos temiam perdida na era dos watts controlados.

João Almeida permanece no jogo

Para os expatriados em Lisboa, Porto ou Faro que têm acompanhado cada pedalada pela box da TV, a boa notícia foi ver Almeida chegar apenas 22 s depois do italiano, segurando a segunda posição da geral. No contrarrelógio encurtado de Valladolid, o português recuperou 10 s, mas voltou a ceder quatro na etapa plana seguinte, mantendo-se a 44 s do dinamarquês Vingegaard. A UAE Team Emirates reconhece que a escalada final para a Bola del Mundo será o tudo-ou-nada: se Almeida não perder tempo até lá, pode arriscar um ataque ao estilo Fernandes em La Covatilla 2020.

Cinzas, protestos e rotações de última hora

A alta montanha leonesa apresentou-se com rampas de 18 % e um cenário quase pós-apocalíptico. O fogo devastou a antiga estação de esqui de El Morredero, deixada ao abandono desde 2008, e avançou até às minas romanas de Las Médulas, Património Mundial da UNESCO. A organização da Vuelta monitorizou o vento com drones e manteve bombeiros no traçado até à passagem do carro-vassoura. O governo castelhano, por seu lado, decretou restrições de acesso a zonas florestais, medida que se estende às províncias de Bragança e Viana do Castelo sempre que o índice de perigo cruza a fronteira.

O que ainda pode acontecer

Os especialistas calculam que um ataque bem-sucedido na Bola del Mundo pode render até 1 min a quem se sentir inspirado. Vingegaard, experiente em gerir margens curtas, agarrou bonificações intermédias sempre que pôde. Já Almeida apelou à equipa para o proteger melhor nas primeiras rampas — sem a guarda de Jay Vine ou Finn Fisher-Black, o português corre o risco de ficar isolado cedo de mais. Tom Pidcock, a 2 min 43 s, precisaria de um colapso duplo dos rivais para sonhar com a camisola vermelha.

Quem é afinal Giulio Pellizzari?

Nascido em San Severino Marche em 2003, Pellizzari passou pela Bardiani e afirmou-se no Tour de l’Avenir 2023 antes de chamar a atenção do projecto germano-austríaco financiado pela Red Bull. Este ano já terminara 6.º no Giro d’Italia com apenas 21 primaveras. Perguntado sobre o segredo para desafiar nomes como Vingegaard, responde com um sorriso desarmante: “Io pedalo per far felici i bambini”. Traduzindo: corre para ver crianças felizes — ou, em bom português, para pôr fogo na corrida.

Dicas práticas para quem quer seguir a caravana

A etapa de domingo termina em Madrid, mas se pensa viajar até Castela e Leão na próxima semana tenha em conta que acessos a trilhos florestais continuam limitados. Aplicações como My112 ou Fogos.pt (sim, funcionam em Espanha) atualizam interdições em tempo real. Na televisão portuguesa, a RTP2 garantiu emissão integral das duas últimas etapas; a plataforma GCN+ oferece comentários em inglês e espanhol, úteis para quem ainda tropeça no jargão técnico. Enquanto isso, a federação portuguesa lembra que a Volta ao Algarve abrirá inscrições para voluntários em outubro, ótima forma de aprender os bastidores antes da elite voltar à Península.

A montanha respondeu com fogo, o talento jovem respondeu com ousadia e Portugal continua com um candidato ao trono. Para o público estrangeiro que escolheu viver neste canto atlântico, a lição é simples: nas estradas ibéricas, nunca subestime um miúdo com ganas de chegar primeiro ao topo.