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In Portugal ‘Good Jobs’ May Not Need Degrees, Minister Claims

Economy,  Politics
By The Portugal Post, The Portugal Post
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A frase da ministra do Trabalho voltou a agitar o debate sobre salários e dignidade laboral: se qualidade não depende do diploma, de que depende afinal? Nos bastidores do Fórum Social do Porto, Rosário Palma Ramalho defendeu que todo posto, do pedreiro ao programador, pode ser "de qualidade" desde que pague bem e garanta condições decentes. O argumento, porém, abre espaço para perguntas que interessam a quem vive e trabalha em Portugal: em que setores esta promessa já é visível, que apoios o Estado oferece e que exemplos lá de fora funcionam?

O novo slogan governamental em análise

Sob os vitrais do Palácio de Cristal, a governante resumiu o seu ponto: «emprego de qualidade não tem de ser necessariamente qualificado». De imediato, sindicalistas sussurraram sobre o risco de legitimar baixas habilitações, enquanto empresários aplaudiram a flexibilidade do conceito. A ministra esclareceu que a fasquia passa por salários adequados, segurança e saúde no trabalho, formação contínua e equilíbrio família-vida profissional. Ou seja, quatro pilares que, no entender do Executivo, podem e devem ser exigidos tanto a um engenheiro aeroespacial como a um cuidador de idosos.

Salários: números que sustentam (ou não) a teoria

Portugal fechou o verão com um salário mínimo de €870 e uma remuneração média que continua, segundo Bruxelas, «entre as mais baixas da Europa Ocidental». Ainda assim, há ilhas de melhoria. Nos últimos doze meses, o Ministério contabilizou 43 000 contratos acima de €1 400 em setores onde o 12.º ano ainda é exceção. A construção civil bate recordes, pagando já €1 500 a €1 800 a carpinteiros especializados, enquanto o transporte internacional de mercadorias aproxima-se dos €3 000 para motoristas com rota Ibérica.

Onde encontrar “qualidade” sem diploma em 2025

Se a declaração ministerial parece abstrata, alguns empregadores tornaram-na tangível. Grandes obras de infraestrutura, da linha de alta velocidade Porto-Lisboa às centrais solares do Alentejo, procuram mestres de obras, soldadores e canalizadores com experiência, oferecendo contratos sem termo e seguro de saúde. A hotelaria, impulsionada por 30 M de turistas anuais, anuncia chefes de cozinha a €1 500 e alojamento subsidiado no Algarve. Já nos lares e IPSS, a procura por cuidadores de idosos faz subir gradualmente salários para a casa dos €1 000, valor ainda modesto mas acima do mínimo nacional.

Ferramentas públicas que prometem elevar o patamar

Do lado das políticas, o Instituto do Emprego e Formação Profissional acelera programas como o Compromisso Emprego Sustentável, que só financia empresas se pagarem pelo menos €1 018 a novos contratados. Há ainda o Cheque-Formação + Digital, um vale de €750 por trabalhador para cursos de competências tecnológicas, e incentivos fiscais que permitem às firmas majorar em 200% os encargos com aumentos salariais no IRC. Paralelamente, isenções de IRS sobre prémios de produtividade até 6 % da remuneração anual querem tornar bônus menos onerosos para quem paga e mais palpáveis para quem recebe.

O espelho europeu: Espanha, Alemanha, Irlanda

Enquanto Lisboa discute semântica, Madrid já obriga o salário mínimo a atingir 60 % do salário médio e subsidia contratos permanentes para jovens com baixa qualificação. Berlim, por sua vez, usa o clássico Kurzarbeit para evitar despedimentos e flexibiliza vistos para profissionais com dois anos de experiência prática, diploma ou não. Dublin exibe a mais alta satisfação profissional da UE (89 %) e atrai estrangeiros com vistos de estudante que permitem trabalhar em part-time. Três respostas distintas a um mesmo desafio: garantir que emprego de entrada não significa vida precária.

O que falta afinar em Portugal

Especialistas ouvidos pela imprensa lembram que 34 % dos trabalhadores continuam em contratos temporários involuntários e que a sobrequalificação é a mais elevada da União. Para estes analistas, falar em “qualidade” sem mexer no modelo de negociação coletiva, na fiscalização a falsos recibos verdes e na atualização anual do salário mínimo pode esvaziar a ambição governamental. Propõem ainda um reforço do ensino profissional dual, inspirando-se no padrão alemão que combina aprendizagem em empresa e formação em escola técnica.

Por que a discussão interessa a quem vive em Portugal

Para residentes estrangeiros e portugueses regressados, a mensagem oficial é clara: há caminhos de ascensão que dispensam diploma universitário, desde que se aposte na experiência e nas formações curtas certificadas. O país, contudo, continua a exigir uma leitura minuciosa dos contratos e uma negociação firme de benefícios. A pressão social sobre o Governo para converter esta retórica em legislação efetiva poderá traduzir-se, nos próximos orçamentos, em novas deduções fiscais, mais vagas em cursos gratuitos do IEFP e tetos mínimos por setor. Até lá, o binómio "qualidade" versus "qualificação" permanece no centro do palco — e a plateia laboral aguarda ver se as luzes se acendem ou se baixam de novo o pano.