Clutch Three-Pointer Sends Portugal into EuroBasket Round of 16

Uma trinca de pontos nos segundos finais, um treinador que descreveu o embate como “uma final” e um grupo de jogadores a festejar como se tivessem derrubado um gigante. Assim, em pleno piso reluzente da Xiaomi Arena, em Riga, a seleção portuguesa de basquetebol selou frente à Estónia a passagem inédita para os oitavos-de-final do EuroBasket 2025 e ganhou o direito de medir forças com a poderosa Alemanha já este sábado.

Euforia que ultrapassa o futebol

Para muitos estrangeiros habituados a ver Portugal viver e respirar futebol, a explosão de orgulho nacional provocada por esta vitória no basquetebol pode surpreender. O feito chega num momento em que o país procura diversificar a sua oferta desportiva turística, criando novas razões para que expats e nómadas digitais fiquem um pouco mais no café a discutir táticas que não envolvem Cristiano Ronaldo. Com apenas quatro presenças em fases finais da competição, Portugal transformou uma campanha irregular – duas vitórias em cinco jogos – num bilhete para a fase a eliminar, algo que não acontecia desde o lendário nono lugar de 2007. Para a comunidade internacional radicada no país, ver o emblema das quinas aparecer entre as dezasseis melhores seleções da Europa acrescenta uma camada extra de identificação cultural que passa ao lado de quem só aterra no Porto ou em Lisboa para ver futebol de Champions.

Um jogo digno de filme em Riga

O marcador final mostrou 68-65, mas bastaria rever o último minuto para perceber porque é que o selecionador Mário Gomes disse aos jornalistas que a partida seria jogada “como um prolongamento”. A Estónia, que entrara como ligeira favorita, viu-se amarrada a uma defesa agressiva, enquanto Portugal recuperou bolas decisivas no garrafão. O base Rafael Lisboa incendiou o encontro com 17 pontos, incluindo três triplos que silenciaram a claque báltica. Já o poste Neemias Queta, primeiro português a ter minutos regulares na NBA, somou 15 pontos antes de ser desqualificado no terceiro período – incidente que, em vez de derrubar o grupo, serviu de gatilho para uma reviravolta cheia de carácter. O veterano Miguel Queiroz completou um duplo-duplo de resistência (10 pontos e 10 ressaltos) e garantiu que cada posse de bola fosse disputada como se o futuro do basquetebol luso dependesse dela – o que, de certa forma, era verdade.

Heróis inesperados e confirmação de Queta

A atuação de Lisboa confirmou que o jovem formado no Benfica pode ser mais do que um distribuidor, enquanto Queta reforçou a ideia de que o talento português já não cabe apenas nos pavilhões da Liga Placard. Gomes tinha dito na véspera que a missão coletiva era “reagir, reagir sempre” – e o plantel cumpriu ao ponto de manter a compostura mesmo depois da expulsão do seu NBA. Para quem vive em Portugal e procura exemplos de resiliência desportiva, o encontro oferece um roteiro perfeito: quinteto curto, rotação tática e uma crença quase epidémica de que o resultado seria decidido nos detalhes. O técnico insistira, desde agosto, que os jogos de preparação serviam unicamente para “afinar”; em Riga, a orquestra soou afinada, mesmo sem primeiro violino durante o quarto período.

A Alemanha no caminho: perigo e oportunidade

O próximo obstáculo atende pelo nome de Alemanha, campeã mundial em 2023 e dona de uma profundidade de plantel que inclui figuras conhecidas dos Anglo-Saxon expats que seguem a NBA ou a EuroLeague. No papel, o duelo lembra a batalha entre Davi e Golias; na prática, os germânicos aterram em Riga na ressaca de uma fase de grupos onde exibiram momentos tanto de brilhantismo como de desconcentração. Para Portugal, a chave passará por manter a defesa a trocar permanentemente, bloquear o perímetro de Franz Wagner e explorar a ausência de posses ordeiras sempre que a Alemanha roda o cinco inicial. Quem reside em Portugal e adora a narrativa do underdog tem aqui o substituto perfeito para as tardes de surf sem ondas.

Como ver a festa em Portugal

Embora o palco seja na Letónia, a Federação Portuguesa de Basquetebol confirmou que a partida dos oitavos será transmitida em sinal aberto na RTP 2, além das plataformas de streaming da FIBA. Vários bares desportivos de Lisboa – do tradicional O’Gilins, no Cais do Sodré, ao recém-aberto Hoops House em Campo de Ourique – anunciam já ecrãs gigantes, horários em inglês e happy hours específicas para o encontro. No Porto, o Bonfim Basket Bar prepara-se para abrir as portas três horas antes do salto inicial, convertendo a Invicta numa mini-Riga com cerveja artesanal e petiscos do Douro. Para os recém-chegados que ainda não dominam o idioma, as transmissões oferecem áudio alternativo em inglês no site da FIBA, permitindo seguir cada assistência de Lisboa e cada bloqueio de Queiroz sem recorrer ao dicionário.

Basquetebol português: passado modesto, futuro promissor

Quando Portugal alcançou o nono lugar em 2007, poucos apostaram que viria a repetir qualquer façanha semelhante. Desde então, o basquetebol foi vivendo nas sombras do futebol e, mais recentemente, do crescimento meteórico do pádel. A explosão de academias ligadas à NBA, o aparecimento de Queta em Sacramento (e depois em Boston), bem como o investimento da Liga Portuguesa em transmissões bilingues, ajudam a explicar porque é que o desporto da bola laranja volta agora às manchetes. Para a comunidade estrangeira, esta evolução significa mais oportunidades de networking, mais eventos familiares e, sobretudo, mais uma ponte cultural com o país de adoção. Se o conjunto de Gomes conseguir prolongar o conto de fadas frente à Alemanha, o basquetebol poderá finalmente ganhar o estatuto de segundo desporto nacional – e dar aos expatriados um novo pretexto para gritar “Portugal, Portugal” com sotaque misto de saudade e surpresa.