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Benfica Hands the Keys to Mourinho in Stunning Return

Sports,  Economy
By The Portugal Post, The Portugal Post
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Regressou o treinador que gosta de transformar bastidores em palco principal. José Mourinho volta a sentar-se no banco da Primeira Liga 25 anos depois, agora vestido de vermelho, com um contrato ambicioso, impacto imediato na bolsa e uma cláusula que pode virar novela eleitoral no Benfica. A estreia trouxe vitória, entusiasmo e uma série de perguntas: quanto tempo dura a lua-de-mel, quem paga a conta e que efeito terá o "Special One" num campeonato que já andava ao rubro.

Porquê agora?

O próprio técnico admite que esperava regressar a Portugal apenas para orientar a seleção, mas o apelo de um "gigante mundial" falou mais alto. Contexto eleitoral na Luz, uma oportunidade de reerguer a carreira depois de passagens turbulentas por Roma e Londres e, acima de tudo, a hipótese de disputar títulos num palco que o viu nascer como treinador principal em 2000. Para os adeptos, o retorno tem cheiro de redenção histórica: o Benfica despediu-o em janeiro de 2001, antes de perceber o que estava a perder.

A direção encarnada, pressionada por um início de época irregular e pelo escrutínio dos sócios antes das urnas de outubro, viu em Mourinho um símbolo de ambição imediata. Analistas recordam que o treinador carrega uma aura de "estirpe campeã" capaz de silenciar críticas — pelo menos até à primeira sequência negativa. Fora do relvado, a Liga Betclic saboreia um pico de projeção internacional parecido ao que Cristiano Ronaldo gerou na Arábia Saudita.

Os contornos do acordo

Assinatura válida até junho de 2027, salário na ordem dos €6 M por época e uma curiosa cláusula de saída para ambas as partes no fim da temporada 2025/26. Nos dez dias posteriores ao último jogo deste ano competitivo, ou Mourinho ou o novo presidente — caso haja mudança diretiva — podem romper o vínculo sem estragos milionários. Essa "margem de manobra estratégica" é vista como seguro político num clube onde a estabilidade raramente dura.

A estrutura fiscal também pesa. Residindo oficialmente em Portugal, Mourinho beneficia de um regime que, segundo consultores, pode cortar até 35 % nas obrigações tributárias face ao que pagaria no Reino Unido. Em troca, o Benfica compromete-se a bônus por objetivos: qualificação direta para a Liga dos Campeões, conquista do campeonato e presença em meias-finais europeias. Tudo somado, o pacote pode custar quase €20 M ao clube até 2027 — valor que a SAD justifica com o potencial de receita extra em merchandising e patrocínios.

Primeiros sinais em campo

Só precisou de 90 minutos para incendiar o imaginário benfiquista. Na visita ao recém-promovido AVS, vitória por 3-0, posse de bola pragmática e banca cheia de adeptos encarnados que cantaram o nome do técnico do primeiro ao último minuto. "Os jogadores abraçaram a minha forma de trabalhar", elogiou Mourinho, que trocou gritos por instruções curtas e abraços na linha lateral.

Dentro de campo destacou-se a pressão alta e a escolha de dupla de médios com menos estatuto mas mais pulmão. "Homens felizes jogam melhor", repetiu na flash interview, enquanto explicava por que abriu o treino de véspera: queria que a comunidade sentisse o processo.

Expectativas e riscos desportivos

A aritmética é simples: depois de 6 jornadas, o FC Porto lidera com 5 pontos de vantagem. Mourinho garante que "não olha para a tabela", mas nos bastidores já circula o alvo de 80 pontos como patamar mínimo para lutar pelo título. O rival do norte, agora presidido por André Villas-Boas, recebe esta narrativa com naturalidade: "Será tratado como adversário, não como ídolo", frisou o dirigente.

Sporting e Braga, clubes habituados a capitalizar turbulências na Luz, observam com atenção. Alguns analistas apontam para o risco de confrontos mediáticos se resultados não forem imediatos; outros lembram que a força do técnico reside precisamente em controlar a narrativa. Seja qual for o desfecho, a presença de Mourinho deve elevar o sarrafo tático — e a temperatura — de cada clássico.

Impacto fora das quatro linhas

No dia em que o acordo se tornou oficial, as ações da Benfica SAD subiram 1,83 %, sinal de que o mercado compra o "efeito Mourinho". Patrocinadores internacionais já sondam a Luz para renegociar painéis LED, enquanto a Liga Portugal programa road-shows em Madrid e Nova Iorque para vender direitos televisivos de 2027 em diante.

Responsáveis do turismo lisboeta calculam um aumento de 10 % na procura de pacotes que incluam visita ao Estádio da Luz em dias de jogo grande. A liga, que já gera mais de €600 M anuais, vê na nova figura mediática munição para superar a barreira dos €700 M quando o próximo ciclo de media rights entrar em vigor. Ainda assim, contabilistas do clube lembram que a retenção de talento no plantel — e não apenas no banco — será crucial para transformar manchetes em cash-flow.

Olhares além-fronteiras

A BBC fala em "risco calculado"; a Gazzetta dello Sport evoca "velha raposa a cheirar o sangue"; portais árabes especulam sobre uma futura passagem pela Arábia Saudita se a aventura for curta. Para a diáspora portuguesa e para os muitos estrangeiros que fizeram de Lisboa a sua casa, Mourinho oferece tema de café, aulas de português improvisadas e um motivo para ligar a RTP Internacional ao fim-de-semana.

Curiosamente, o treinador não descartou a Seleção Nacional no horizonte: "Quando Fernando Santos me convidou em 2014 eu disse que não, mas um dia vai acontecer", confidenciou. Essa declaração alimenta teorias de que o Benfica poderia servir de rampa de lançamento para o Euro 2028.

O que esperar nas próximas semanas

No curto prazo, o Benfica recebe o Estoril para a Taça da Liga antes de um teste europeu contra o Galatasaray — palco onde o currículo de Mourinho costuma pesar. Entre outubro e novembro surgem dois clássicos consecutivos, primeiro no Dragão, depois no Estádio da Luz contra o Sporting. É aí que as primeiras conclusões — e talvez as primeiras crises — serão tiradas.

Até lá, a cidade já sente a mudança de maré: cafés de bairro vendem camisolas "Special One 2025" ao lado dos pastéis de nata, taxistas discutem 4-4-2 versus 3-5-2 e grupos de expats ensaiam cânticos em português para não chegarem ao estádio de mãos a abanar. Muito ficará por provar, mas a grande verdade é simples: o campeonato ganhou uma personagem capaz de transformar cada domingo em evento global.